Quando começo a contar para as meninas tudo que já passei enquanto tentante, recebo olhares como se eu fosse uma doida. Mas, no fundo, quem não é? Como sou muito ansiosa para tudo, cheguei a fazer maluquices para saber se estava grávida bem antes da hora de poder ter um diagnóstico preciso.
Eu era, sim, uma alucinada, neurótica e até mesmo considerada maluca na minha época gloriosa de tentante. Não pense que me sinto mal por isso! Muito pelo contrário, em meio a essa loucura surgiram todos os meus conhecimentos sobre tentativas de engravidar. Foi lendo, estudando, conversando com as minhas amigas e mentoras mais veteranas de tentativas e, simplesmente, com maior tempo de estrada, que eu aprendi. Psicologicamente falando, elas me davam suporte emocional e só saber que não estava sozinha nessa batalha (em que muitas meninas ainda estão) fez toda a diferença do mundo. Aprendi desde posição assim, posição assado, eleva bumbum, faz banho de assento com bicarbonato e por aí vai. Essas técnicas e truques peculiares de tentantes e outras loucuras são, de certa forma, um acalento para os dias férteis.
Poder desabafar e contar com alguém certamente ameniza, mesmo em casos mais graves em que a fertilidade está mais comprometida do que se esperaria antes das primeiras tentativas. Pois bem, digo sempre que para se começar a tentar engravidar, preparar o psicológico é muito importante. Saber que pode-se levar até um ano para que a gravidez aconteça é fundamental para manter a calma. Somente após o primeiro ano sem sucesso, um especialista deve ser procurado para investigação.
Na verdade, Marcos e eu buscamos a gravidez, ao total, por sete anos, distribuídos nas três gestações, sendo um ano com a mais velha (nem era bem uma fase de tentante, mas considero mesmo assim), três anos com o Dudu e mais três e pouco com a Mel. Confesso que nos últimos meses antes de ficar grávida da Melissa, fiquei meio que anestesiada de tantos negativos que levei. Eu fazia muitos testes por ciclo e sempre quebrava a cara. A esperança sempre existia, mesmo depois de ter um ciclo menstrual.
O corpo da gente é danado! Quando estamos ansiosas, tudo pode acontecer, tudo pode virar sinal de gravidez e aí mora o perigo da frustração. Só quem teve um negativo na cara (como muitas tentantes esperançosas recebem) sabe o que é ter o mundo abaixo. Levar um balde de água fria não é nada legal.
Foi em meio a tantos negativos que cheguei à conclusão de que um negativo não é o fim do mundo e que esperar e deixar os dias passarem é fundamental. Aprendi isso a duras penas, minhas amigas! Precisei derramar muitas lágrimas de decepção para aprender que só se deve fazer o teste depois do atraso. Antes, pode não ter dado tempo do HCG chegar ao sangue, fato que só acontece depois da nidação.
Não fique esperando seu positivo sair dois ou três dias depois da relação, não é bem assim que acontece! Embora desejássemos que um nariz laranja acendesse depois da fecundação, sabemos que a natureza não age de forma tão simples assim. Então esperar é o que nos resta, dura realidade. Vida de mulher significa uma eterna espera. Engraçado, quando o positivo chegava, eu não acreditava, juro! Acho que foram tantos obstáculos, tantas idas e vindas de laboratórios, tantos negativos que criei uma casca que me fazia duvidar do que meus olhos estavam vendo.
O primeiro positivo foi diferente. Me assustei porque não queria estar grávida naquela situação, era como se fosse um chacoalhão da vida dizendo: “Ó, você é mulher! Deu bobeira e agora engravidou.”
Mas o segundo positivo meio que era desejado. Embora eu ainda fosse jovem, sabia que seria uma boa mãe e, por isso, não julgo meninas novas que querem ser mamães. Claro que cada mulher deve analisar as suas condições e seu relacionamento para dar uma vida segura ao seu bebê. Mas por que uma menina de 20 anos seria menos mãe do que uma de 35?
Lembro-me que estava com um emprego razoável na época, tinha 21 anos e era muito magrinha, bonitinha, um chuchu – ai meus anos maravilhosos! Um belo dia, meus seios doíam muito e eu pensava que era a red chegando. Um belo dia sem pensar demais, nem sabia com quanto tempo de atraso eu estava. Só senti que deveria fazer um teste.
Simplesmente entrei na farmácia e pedi o teste mais barato que eles tinham. Cheguei em casa, era por volta das 17 horas e foi com aquela urina mesmo. Fiz xixi no potinho do teste e coloquei a fita dentro. Juro que quase caí dura quando as duas linhas apareceram. O choque só não foi maior do que o primeiro positivo. Mas ainda assim me assustei porque não o esperava, embora estivesse sem tomar nada, nem me prevenindo. Chamei o marido e mostrei o teste para ele que, sem entender nada, pediu as instruções da bula para ler. Era preciso interpretar o resultado!
Sentou-se na soleira da porta do banheiro e lá ficou por uma hora aproximadamente, com uma cara de pastel de dar dó. Se eu estava assustada, como ele ficaria então? Quem não ficaria?! Mas, ao mesmo tempo, foi bem compreensível a reação dele. Na verdade a reação do Marcos ao receber as notícias das minhas gestações nunca foi nem parecida com a desses maridos de filme de cinema. Ele é do tipo machão intocável, Chuck Norris paulista. Mas, no fundo, sei que ele se derrete.
Na segunda gravidez (meu terceiro positivo) foi mais legal porque a gente queria muito mais um bebê e foi em uma topada que tudo aconteceu. Chegamos a fazer tratamento para que a gravidez pudesse acontecer e foi quando nós desistimos de engravidar que o Dudu veio. Topada? Sim, topada, querida amiga! Tinha um freezer no meio do caminho que quase arrancou meu dedinho do pé direito. A topada foi tão feia que o deixou quebrado. Estava doendo demais e então fui ao pronto socorro para ver o que poderia ser feito. Foi quando passamos pelo ortopedista do plantão. Ele mais parecia o He-Man, mas era muito competente.
O doutor me encaminhou para um raio X. Mas, antes de tudo, me perguntou se eu estava com suspeita de gravidez. Era Fevereiro e como eu não menstruava desde Dezembro, ele resolveu encaminhar para um beta qualitativo. Colhi o sangue e esperamos por 15 minutos, quando ele nos chamou novamente em sua sala.
Doutor: Patricia, parabéns!
Eu: Como?
Doutor: Sim, deu positivo. Vá para casa e só use paracetamol para dor! Pode marcar seu pré-natal.
O Marcos ficou azul, lilás, rosa, verde, amarelo, um arco íris de emoção ou susto, sei lá! Claro, como todo bom macho inatingível, disfarçou, mas conheço meu marido. Eu não sabia se chorava ou se ria. Fui para casa e parecia que pisava em ovos. Foram tantos anos esperando!
Já na terceira vez foram altos e baixos que me marcariam por toda a vida. Foi a fase de tentante que eu mais batalhei e aprendi. Sei que nada é em vão e é por isso que repasso, com o maior prazer, a outras tentantes, todas essas lições. O positivo chegou quando eu menos o esperava e foi como se fosse uma cena de novela acontecendo.
Sempre media a temperatura, analisava o muco, fazia de tudo. Depois de tanto tempo de tentante, aprendi a me conhecer e soube que traz grande vantagem usar esses métodos. Então um dia, estava no 15º dpo (dia pós-ovulação) e fiz uma carne moída com arroz e feijão fresquinhos. Fiz meu prato e sentei à mesa para jantar, mas a carne mais parecia pedra moída, descendo como paralelepípedo garganta adentro. Não consegui jantar naquele dia, mas não me alarmei para nada. No dia seguinte, eu estava tão quente que quando fui pegar a Joana na escola, meus pés e mãos pareciam pegar fogo, sem contar nem mencionar que estava impaciente. Queria matar qualquer um que me olhasse por mais de cinco segundos. A voz do Dudu me irritava, tadinho, embora o coitado não fizesse nada demais para tal.
Lembro que Marcos chegou em casa um pouco mais cedo naquela noite, entrou na cozinha e colocou a marmita que leva ao trabalho em cima da pia. Eu, que já havia limpado tudo após o jantar, comecei a chorar, me sentindo desvalorizada enquanto dona de casa. Digo que sou a verdadeira atriz de dramalhão mexicano porque ali foi mesmo uma cena digna das novelas da Televisa. Como diz o marido, satirizando a novela Maria Mercedes: “Você é a Maria Kombi brasileira.” Não discordo desse título porque eu sou dramática demais quando grávida, isso é fato!
Ele entrou na sala, me viu chorando e olhou nos meus olhos:
Marcos: Amor, você menstruou?
Eu: Não, por quê?
Marcos: Você está gravida! Eu tenho certeza!
Ele deu meia volta e foi à farmácia comprar um teste. Trouxe um Clear Blue Compact que foi o que me deu o positivo naquela noite. Foi muito emocionante ver a linha positiva do teste subindo! Eu sabia que poderia nunca mais ver aquela cena por conta dos hormônios e da idade (30 anos e contando). Claro que eu não era velha, pelo contrário, mas a esperança já estava gasta depois de tantos anos de tentativas.
Finalmente, no dia seguinte, fiz um teste de outra marca porque quase não consegui segurar a ansiedade durante a noite – mais um positivo claro! No sábado fomos ao laboratório fazer o exame beta HCG quantitativo que demora no máximo duas horas para ficar pronto. Mas, por falta de sorte, ficou pronto somente após uma reclamação minha ao estabelecimento e isso somente no dia seguinte. O resultado foi 144 mUi, quatro semanas! Dar a notícia à família e amigos foi divertido. Cheguei a pegar a reação da mamãe e do papai ao saberem que teriam mais um netinho, foi sensacional! A gravidez foi mais complicada dessa vez. Mas isso é assunto para outro livro!
A verdade, amiga tentante, é que, depois de tanta luta, a gente pode perder as forças. Aconteceu comigo como com tantas meninas. A maioria das tentantes e amigas do grupo conseguiram engravidar, apenas duas ainda estão na luta. Algumas delas estão tentando o segundo filho, outras já com eles nos braços. Enfim, a verdade é que tentante é um estado de espírito, uma filosofia de vida. Uma vez tentante, para sempre tentante! Por mais que se esqueça das lutas que teve para conseguir chegar ao positivo, a lembrança da época de tentativas estará lá para sempre.