Dentre os milhares de medos e preocupações de uma gestante em relação ao parto, está a laceração perineal. Com isso, muitas mulheres optam pelo parto cesárea justamente para não correr riscos. Mas por que ocorrem e existe forma de evitar?
O que é Laceração Perineal
Laceração perineal é um rompimento não intencional da pele e outras estruturas dos tecidos moles que, nas mulheres, separam a vagina do ânus. As lacerações perineais ocorrem principalmente em mulheres como resultado do parto vaginal, que estica o períneo, causando fissuras.
Gravidade do Ferimento
Esses ferimentos variam muito em relação a gravidade, a maioria é superficial e não requer tratamento. Mas as lacerações severas podem causar sangramento significativo, dor ou disfunção a longo prazo. Uma laceração perineal é diferente de uma episiotomia, na qual o períneo é intencionalmente cortado para facilitar o parto.
Estima-se que 53% a 79% das mulheres experimentem algum tipo de laceração durante o parto vaginal, mais comumente no corpo perineal (lado externo da vagina). Geralmente, a maioria delas são lacerações simples.
Anatomia feminina
Em uma mulher, a área anatômica conhecida como períneo separa a abertura da vagina da abertura do ânus. Cada uma dessas aberturas é cercada por uma parede e há dois tipos de músculos no assoalho pélvico.
Um é grande, largo e duplo, chamado elevador do ânus, que forma uma espécie de rede sobre a qual apoiam os órgãos pélvicos. Os outros músculos são menores, chamados esfíncteres, que nada mais são do que músculos circulares que ajudam no fechamento da uretra e do reto.
Uma laceração perineal pode envolver algumas ou todas essas estruturas, que normalmente ajudam a apoiar os órgãos pélvicos e a manter a continência fecal. Esse ferimento pode ser classificado em quatro categorias.
As quatro categorias da laceração
Laceração de primeiro grau: é limitada aos pequenos lábios, à pele superficial perineal ou mucosa vaginal.
Laceração de segundo grau: se estende além dos pequenos lábios, da pele perineal e mucosa vaginal para músculos perineais e fáscia (tecido fibroso na qual se fixam alguns músculos), mas não o esfíncter anal.
Laceração de terceiro grau: pequenos lábios, pele perineal, mucosa vaginal, músculos e esfíncter anal são rasgados.Lacerações de terceiro grau podem ser subdivididas em três subcategorias:
3a. retalhamento parcial do esfíncter anal externo envolvendo menos de 50% de espessura.
3b. maior que 50% de rasgo do esfíncter anal externo.
3c. o esfíncter interno está rasgado.
Laceração de quarto grau: pequenos lábios, pele perineal, mucosa vaginal, músculos, esfíncter anal e mucosa retal são rasgados.
Por que Acontece a Laceração Perineal
Nos seres humanos e em alguns outros primatas, a cabeça do bebê é maior do que o canal de parto. À medida que a cabeça passa pela pelve, os tecidos moles são esticados e comprimidos, o que pode acarretar no ferimento do períneo.
Por isso não tem como prever se acontecerá ou não. Tudo vai depender do momento do parto, do tamanho do bebê e até mesmo da dilatação e passagem vaginal da mulher.
Quem corre o risco de laceração de terceiro ou quarto grau
Essas lacerações severas podem acontecer com qualquer mulher durante o trabalho de parto, mas são mais prováveis nas seguintes situações:
- No primeiro parto vaginal;
- Em um segundo parto vaginal onde já se obteve uma laceração de terceiro ou quarto grau;
- Em um parto com fórceps;
- Em um parto onde já houve uma episiotomia anterior;
- Se o bebê for grande;
- Se o bebê nascer na posição posterior (face virada para cima);
- Por ficar por um longo período na fase de expulsão;
- Se a distância entre a abertura vaginal e o ânus for menor do que a média.
Também é possível lacerar em outros lugares. Algumas mulheres laceram o topo da vagina, perto da uretra (isso é conhecido como uma laceração periuretral). Esse tipo de laceração é muitas vezes pequeno, e precisará apenas de alguns pontos ou até mesmo nenhum.
Essas lacerações não envolvem músculo, então elas costumam curar-se rapidamente e são menos dolorosas que as lacerações perineais. A principal queixa é uma sensação de queimação ao fazer xixi.
Menos comumente, uma mulher pode lacerar o colo do útero ou os grandes lábios (as dobras da pele que encobrem os pequenos lábios e a entrada da vagina) ou lacerar profundamente o tecido do canal vaginal (conhecida como laceração do sulco).
Existem complicações após a laceração?
As lacerações perineais de primeiro e segundo grau raramente causam problemas a longo prazo. Entre as mulheres que experimentam uma laceração perineal de terceiro ou quarto grau, 60 a 80% são assintomáticas após 12 meses.
A incontinência urinária e fecal, a urgência fecal, a dor perineal crônica e a dispareunia (dor durante o ato sexual) ocorrem em uma minoria de pacientes, mas podem ser permanentes. Os sintomas associados à laceração perineal não são sempre devidos à própria laceração, uma vez que outras lesões, como a separação dos músculos do assoalho pélvico, que não são evidentes nos exames podem também causá-los.
Como é feito o tratamento da laceração perineal?
Caso tenha sofrido uma laceração (ou uma episiotomia, ou ambas) que requer pontos, é aplicado uma anestesia local diretamente nas áreas que precisam de reparação. Se a laceração for severa é aconselhável um bloqueio maior.
Nesse caso, uma anestesia nas paredes da vagina, que possuem maior contato com o nervo pubovaginal pode adormecer toda a área genital. Logo após, é realizado o procedimento que consiste em suturar todas as camadas que estão laceradas.
Depois de todo esse processo é possível que haja um grande desconforto, portanto, compressas com gelo são indicadas pelas próximas 12 horas ou mais. Se a laceração for muito grande o desconforto gerado será bem maior e poderá ser administrados medicamentos para dor.
Como é a recuperação após uma laceração perineal?
A dor diminuirá ao longo do tempo, mas o desconforto pode durar três meses ou mais.
- Fazer xixi ou cocô podem ser extremamente dolorosos. Nesse caso, com indicação médica pode-se fazer uso de medicamentos que amoleçam as fezes. É importante também manter uma alimentação equilibrada, rica em fibras e ingerir bastante líquido.
- Não lute contra o desejo de evacuar. Prender as fezes com receio de sentir dor pode causar prisão de ventre.
- Não mantenha relações sexuais até que possa ser novamente examinada pelo médico e receba alta.
- Evite usar supositórios e enemas.
Mulheres com lacerações no esfíncter ou em todo o caminho até o reto são mais propensas a ter incontinência de gases ou fezes mais tarde. Mantenha o médico informado caso sofra de qualquer um desses problemas.
Formas de Prevenir a Laceração Perineal
Várias técnicas são usadas para reduzir o risco de laceração durante o trabalho de parto.
- Exercícios com balão inflável dentro da vagina durante a gestação aumentam a resistência da musculatura da vagina e evita lacerações;
- A massagem perineal pré-natal também é bastante indicada;
- A técnica que consiste em guiar a cabeça do bebê pelo canal de parto também é amplamente defendida, porém sua eficácia não é clara;
- O parto na água suaviza o períneo, o que faz com que haja uma redução na taxa de laceração;
- Controlar o desejo de empurrar por um tempo, quando a cabeça do bebê está coroando, por exemplo;
- Compressas quentes no último estágio da expulsão também foi bastante útil em algumas mulheres, reduzindo as lacerações pela passagem da cabeça do bebê.
Para as mulheres que sofrem com a laceração perineal existe a opção do procedimento cirúrgico para correção ou reparação dos danos causados. Essa cirurgia tem o nome de perineoplastia e pode ser indicada pelo próprio ginecologista.
O que é Perineoplastia
Perineoplastia é o nome da cirurgia que visa reconstruir ou aproximar os músculos do períneo. Em geral é indicada por causa de:
- Alargamento do canal vaginal
- Laceração perineal severa Cirurgia prévia (episiotomia)
- Dores e desconfortos durante a relação sexual
- Estenose
- Incontinência urinária ou fecal
- Cicatrizes Adesões de tecido
- Feridas não cicatrizantes após o parto.
Grande parte das mulheres que chegam nos consultórios médicos para a realização da Perineoplastia tem histórico de partos por via vaginal com laceração ou episiotomia.
Se queixam de alargamento vaginal, com consequente perda da sensibilidade (falta de contato e atrito na penetração), eliminação de flatos (ar) vaginais durante o ato sexual, ausência de orgasmo, além de incontinência urinária ou fecal (perda de urina ou fezes) em maior ou menor grau.
O especialista solicitará um estudo urodinâmico, que é um exame capaz de avaliar o grau de incontinência e se for caso cirúrgico, os exames préoperatórios habituais são solicitados na sequência.
Como é realizada a Perineoplastia?
Sob anestesia epidural ou raquidiana com sedação, uma incisão em forma de V é feita na parede traseira da vagina. Qualquer tecido cicatricial existente, fixações anormais de tecidos que foram resultado de lacerações anteriores, ou qualquer outro tipo lesão são removidos.
Há o reposicionamento dos órgãos pélvicos e a junção dos músculos por uma costura. Esse tipo de cirurgia é feito na tentativa de deixar a vagina “mais apertada”.
Muitas mulheres ficam apreensivas esteticamente em relação à cicatriz, mas não há com o que se preocupar pois a cicatriz dessa cirurgia ficará internamente na parede traseira da vagina.
Os cuidados pós-operatório consistem em compressas a frio, absorvente vaginal externo, higienização da área com sabonete íntimo com Ph balanceado, cremes vaginais indicados pelo cirurgião, roupas intimas mais soltas, exercícios físicos após 30 e relações sexuais somente depois de seis semanas.
Apesar de ser uma cirurgia bastante simples é também uma cirurgia muito desconfortável nos primeiros dias, portanto são prescritos medicamentos analgésicos muito fortes, bem como anti-inflamatórios.
As complicações para a Perineoplastia são raras, mas pode ocorrer sangramento abundante, inchaço e infecção dentro das primeiras 72 horas de procedimento. Outras complicações tardias raras são estenose excessiva ou estreitamento da vagina. Após o primeiro mês de cirurgia é indicado exercícios de fisioterapia para fortalecer a musculatura do assoalho pélvico.
A Perineoplastia é considerada uma cirurgia eletiva. Seu valor varia de R$ 1.300,00 a R$ 2.200,00 e é coberta pelo plano de saúde hospitalar.
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Veja Também: As Posições de Parto Normal que Podem Ser Exploradas
Fotos: Jason Lander, Internet Archive Book Images
Tive laceração quarto grau, uma coisa que casou isso acredito que foi porque me fizeram a técnica de KRISTELLER que não fazia a mínima idéia do que era e não explicaram e nem perguntaram se era o que eu queria e pra piorar no terceiro dia pro quarto tava na maternidade ainda e fui sujeita a fazer cirurgia urgênte pra reconstrução do esfíncter tive infecção e tive que usar por 9 meses bolsa de ostomia..hoje faz 24 dias que fiz reversão da ostomia
ResponderEu tive uma Laceração de 1 grau, só que todos os pontos que deu não pegou é abriu novamente, minha dúvida é, vai se feichar sozinho, labio vaginal se regenera?
ResponderTambém me revolto porque as defensoras do parto natural, como eu fui, ficam bravas ao ler um relato desses. Eu também fiz fisioterapia pélvica por semanas antes do parto, com um profissional muito qualificada, que eu admiro e foi a responsável por eu ter conseguido tirar as fraldas depois de 6 meses. Tive a melhor equipe médica, que aguardou até o último minuto, quando o bebê entrou em sofrimento. Mas nunca, ninguém me informou que corríamos o risco de ter uma mãe sequelada, que não consegue mais correr nem pular de dor.
ResponderBom dia
A 14 anos tive minha filha e usaram forceps
ResponderAte hoje sinto um incomodo entre o anus e a vargina e normal uma queimacao
Fran, infelizmente é normal, o uso da fórceps é muito agressivo.
ResponderCom quanto tempo demora pra cair os pontos da laceraçao de 2 grau ?
ResponderE que ja faz 2 meses que tive minha bebe e os pontosda entrada do canal da vagina ainda nao caiu .
“Estima-se que entre 53% a 78% das mulheres que têm parto vaginal experimentam algum tipo de laceração”
Tem algum fonte ou estudo para este dado? Sabe qual a porcentagem aceita pela OMS ou pelo MS? Preciso destas informações para apresentar no trabalho…
ResponderTem mto equívoco nas informações acima… Lacerações de 3° e 4° grau são mto raras, e os motivos sitados acima estão equivicados… qndo acontecem essas Lacerações graves, elas estão relacionadas a episitomia feita de forma errada(mal direcionada), falta de experiência médica em conduzir o parto normal (mto relacionada a indução de parto por medicação/ocitocina entre outros meios q os médicos usam para acelerar o parto, por ex). A laceração não está diretamente ligada ao tamanho do bebê ou da mãe. Lacerações podem ser prevenidas com exercícios simples de preparação para o parto, e são tratadas de forma conservadora com ótimos resultados pela Fisioterapia.
ResponderTem nada de raro. Eu tive de 3° grau. Povo fica dizendo que é raro para as mulheres não desanimarem do parto vaginal. Mas elas precisam ser informadas dos riscos. Eu não fui e meu pós parto foi assustador. E olha que me preparei com fisioterapia pélvica e alongamento do períneo. Parto domiciliar, sem puxo dirigido, posição em pé, bebê pequeno e parto rápido. Considerando que bebê pequeno e parto rápido são fatores de risco, não é possível ser tão raro assim. Nos países que o parto normal é a regra, como na Alemanha, as mulheres são orientadas sobre laceração e prolapso, o que não o ocorre aqui.
ResponderJuliana, sinto mto pela sua experiência ter sido negativa, mas sinto dizer q sua equipe de assistência q falhou em não te orientar sobre os riscos de laceração. Eu sou fisioterapeuta pélvica, trabalho especificamente com preparação para parto, acompanho partos e reavalio as pacientes em pós parto, e volto a afirmar pela minha experiência profissional e baseada em comprovação científica q laceração de de 3 e 4 grau são raras sim quando o parto é natural, sem indução, sem uso de fórceps ou vácuo, sem puxo dirigido e outras intervenções. Todas as minhas pacientes recebem essa informação. E ainda preferem o risco de talvez lacerar (pois varias das minhas pacientes não tem nenhuma laceração), e talvez precisar dar 1 ou 2 pontos superficiais em períneo q ir para uma cesariana e ter q dar vários pontos em 7 camadas do abdômen, pra fechar uma incisão cirúrgica de cerca de 15 cm.
ResponderMinha chará passei pelo mesmo problema laceracao de 3 grau e ainda ao final do parto quando fizeram o reparo foi mal feito então demorei muito a melhorar. E logo nas primeiras consultas pós parto descubro que foi feita episiotomia sim e tenho sequelas até hoje.
ResponderNão foi dito sobre o TRATAMENTO CONSERVADOR, A FISIOTERAPIA PARA REABILITAÇÃO DO ASSOALHO PÉLVICO. Que é primeira linha, tratamento nível A de evidência para incontinências urinária e anal. O FISIOTERAPEUTA especialista em Saúde da Mulher está apto a tratar TODAS as disfunções pélvicas: Incontinências, dor gênito pélvica associada a relação sexual ou não, prolapso de órgãos pélvicos (queda de bexiga por exemplo), preparação para o parto, exercícios durante o trabalho de parto e pós-parto. TODOS OS CUIDADOS COM A SAÚDE DA MULHER EM TODAS AS SUAS FASES DE VIDA!!!
Qualquer dúvida entre em contato, estou à disposição.
ResponderIsabella Andrade – Fisioterapeuta da Saúde da Mulher (Obstetrícia, Uroginecologia e Mastologia)
(31) 9.8825-2010
Não funciona! Já fiz varias vezes e não tem melhora
Responder