Por onde começar? Com tantas possibilidades fiquei pensando nessa pergunta por dias, mas acho que a resposta mais lógica é falar tudo que passa na cabeça de uma tentante, desde o momento em que a decisão de engravidar é tomada até o momento em que o positivo chega. Então, como foi essa trajetória para mim?
Bom, eu sempre fui muito ansiosa, do tipo que quer uma coisa para ontem! Casei-me muito cedo, com 18 anos já namorava sério o rapaz tímido que me conquistou apenas com o olhar. Sabia que seria com ele que formaria a minha família, e meu coração estava certo.
Depois de quase dois anos de namoro, a notícia: estava grávida! O positivo veio com um teste de farmácia às cinco horas da manhã, sozinha no banheiro da minha casa. Me lembro que tremia tanto, mas tanto que na hora de colocar a fitinha do teste na urina quase não consegui realizar o teste sem derramá-la do potinho. Nunca imaginei que cinco minutos determinados pela bula do teste pudessem parecer dez anos, foram literalmente os minutos mais longos da minha vida.
As duas listras estavam lá, positivo! Estava na minha cara um diagnóstico que esperava receber somente dali uns anos, talvez. Afinal, ainda faltava a faculdade e ajeitar o casamento depois dos estudos. Sim, foi mesmo sem querer, mas sabe aquele sentimento de medo, alegria, pânico, tudo misturado? Isso e quatro vezes mais eu senti!
Me senti amedrontada com a nova condição. Embora soubéssemos que seria possível engravidar, a gente nunca acha que vá acontecer de fato, porque sempre acontece com as amigas, vizinhas, filhas de outras pessoas, menos com você. Quando jovem, nos sentimos inatingíveis e a gravidez precoce e não planejada caiu como uma bomba no meu colo.
Acho mesmo que a alegria de me sentir gerando um bebê foi anestesiada pelo medo de como a notícia cairia na família. Eu era a filha mais nova, filhinha do papai e ele, o único filho homem. Meus pais e os pais dele, sinceramente, eram quem me importavam. Eu não era mais tão jovem assim e sabia que nosso ato inconsequente naquele momento poderia render algumas dores de cabeça, já que nem tínhamos um futuro concreto com casamento ou planos de morar juntos.
Porém contamos a todos e foi mais fácil do que eu imaginava; entre os feridos pela situação, estávamos todos bem. Logo resolvemos aprontar tudo para ficarmos juntos de vez, já que nos amávamos muito e era realmente o melhor a se fazer naquele momento. Marcamos o casamento e começamos a arrumar tudo. Faltando apenas nove dias para o casamento e eu, com onze semanas de gravidez, comecei a me sentir mal, muito mal. Sentia uma queimação no baixo ventre, um estranho mal-estar. Nesse dia comentei com a minha mãe:
“Mãe, estou estranha. Me sinto quente, parece que estou febril, sem falar das dores que estou sentindo.”
Ela, muito pacienciosamente, me disse para tomar um banho e me deitar. Depois disso, foi um dos momentos em que meu mundo parou. Senti algo descer e, finalmente ao me levantar, o sangue escorreu pelas pernas. Estava perdendo o bebê. Fiquei internada três dias, fiz curetagem, ultrassom e tudo o que tinha direito; enfim era concreto. Perdi o bebê às onze semanas de gravidez. O mundo caiu.
Renovando as esperanças e a vida, então nos casamos em meio a intercorrências tristes: primeiro o aborto e depois a morte da avó do meu marido. 45 dias depois de tudo isso, nos casamos no civil. Com exatamente um ano de casamento engravidei novamente, de forma natural. Namorávamos frequentemente e a nova gravidez foi uma consequência esperada que acabou me deixando com medo de um novo aborto. Porém, dessa vez correu tudo bem e, enfim, Joana nasceu no dia 20 de Abril de 2002 com 2.930 kg e 45 cm, como primogênita de, agora, de três irmãos.
Fui uma mãe de primeira viagem bem atrapalhada! A confusão era tamanha que cheguei a colocar a fralda suja de caquinha na geladeira e a mamadeira no lixo! Confusões à parte e apesar de nova ainda, eu queria mais uma vida dentro de mim. Tínhamos ainda muito amor para dar. Mesmo com todas as dificuldades que tive depois do nascimento da Joana, o sentimento de querer mais um bebê então apareceu. Foi nesse momento que o universo das tentantes ou das treinantes me foi apresentado pela primeira vez.
Como as duas gravidezes anteriores haviam acontecido muito rápido, já que não contávamos tempo para acontecerem, nem estávamos tentando, e não tínhamos a mínima ideia de quando viria o positivo, nós não esperávamos por dificuldades numa próxima. Eu também não entendia nada de muco e de período fértil, na verdade só sabia que a minha menstruação era completamente desregulada. Havia ciclos de 30 dias, outros de 36 e ainda outros de 40. Era um verdadeiro “circo menstrual” e, por isso, resolvi estudar sobre o assunto “fertilidade”.
Por mais de 3 anos tentamos engravidar do nosso segundo filho. Foi um momento complicado em nossas vidas porque o positivo não chegava. A partir daí, começamos a fazer exames para saber o que estava acontecendo e a adotar técnicas para reconhecer o período fértil. Foi uma época de muito aprendizado.